História


A REGRESSÃO DO DEMOLIBERALISMO

Triunfante no século XIX, o Liberalismo, nos seus pressupostos políticos, conduziu à afirmação das democracias parlamentares burguesas que, nos inícios do século XX, atingiam já consideráveis níveis de aperfeiçoamento.
O demoliberalismo (a democracia liberal) era o modelo politico cada vez mais adoptado no Ocidente Europeu, em finais do século XIX, e afirmou-se, de forma triunfante, com o fim da Primeira Guerra.
Todavia, o quadro económico vivido no Velho Continente não era favorável à consolidação do triunfo conseguido.
Os anos 20 confirmaram todas as fragilidades da Europa.

 AS DIFICULDADES ECONÓMICAS E A RADICALIZAÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

A Europa, em 1918, era um continente assolado por series dificuldades económico-financeiras. Este quadro negativo, repercutia-se inevitavelmente nas condições de vida das populações originando complicadas perturbações em todos os estratos sociais:
·         a burguesia industrial e financeira, mesmo com capacidades para resistir melhor às condições adversas. Alguns sectores não conseguiram mesmo evitar a falência;
·         centenas de milhar de agricultores foram à ruína, independentemente de serem titulares de capitais próprios ou dependentes do sector financeiro;
·         as classes médias urbanas, dependentes de salários ou de outros rendimentos fixos, entraram em grande dificuldade. Muitos assalariados, não resistindo à sua pauperização, acabaram por cair na proletarização de que tanto desdenhavam;
·         o operariado urbano e rural mergulhou na miséria, em consequência do desemprego que não parou de crescer.
Perante as dificuldades económicas, generalizou-se entre a população, um sentimento de descontentamento e de agravamento de tensões que conduziu à revolta e ao afrontamento político. De um lado o conservadorismo burguês, do outro a agitação revolucionária socialista.
O IMPACTO DO SOCIALISMO REVOLUCIONÁRIO

Este quadro económico e social de crise e de profundo mal-estar social era vivido, no Ocidente europeu, numa altura em que os desenvolvimentos da democracia liberal proporcionavam total liberdade de formação de novos partidos, muitos deles de inspiração socialista. Ao mesmo tempo, os sindicatos, cada vez mais reforçados, intensificavam a sua acção de propaganda e de militância política na denúncia dos males do capitalismo, na tentativa de ganharem mais aderentes para a causa proletária.
Vivia-se, com efeito, o triunfo do socialismo na Rússia, onde o movimento operário se reorganizou numa III Internacional, em Moscovo, em1919. Era a Internacional Comunista ou Komintern. A oportunidade da sua formação teve claramente a ver com a possibilidade de aproveitar o ambiente catastrófico do pós-guerra para expandir o socialismo entre todas as populações oprimidas e exploradas. Promover a união da classe operária internacional e impor no mundo operário o socialismo marxista-leninista era, ao fim ao cabo, o grande objectivo da III Internacional.
Em consequência, ao longo dos anos 20, a Europa foi sacudida por uma vaga revolucionária que evidenciou as dificuldades dos regimes demoliberais. As democracias europeias assistiram apavoradas a tentativas de ocupação do poder por forças inspiradas no socialismo marxista, na Alemanha e na Hungria, por exemplo; à ocupação de fábricas e de propriedades agrícolas, com grande violência na Itália; a um surto de manifestações e de greves que se intensificava à medida a que se agravavam as consequências da crise económica.

 A EMERGÊNCIA DOS AUTORITARISMOS

A principal consequência da acção revolucionária da III Internacional foi a eclosão dos movimentos fascistas por toda a Europa, numa reacção violenta e organizada contra o avanço do comunismo.
Com efeito, os sectores conservadores, onde preponderavam as classes medias e os proprietários burgueses, tremeram perante a intensificação da agitação social que punha em causa a sua propriedade e o seu bem-estar físico, sentiram-se ameaçados e organizaram-se em movimentos de reacção ao avanço do comunismo:


·         lançam violentas e agressivas campanhas anticomunistas;
·         apelam ao orgulho nacional, à grandeza do passado, à ordem e à estabilidade que tinham feito a grandeza das nações, contra as doutrinas socialistas que, com o seu internacionalismo, punham em causa a coesão nacional;
·         denunciam a incapacidade dos governos democráticos de resolverem as situações de crise económica e de instabilidade social;
·         denunciam as fragilidades do parlamentarismo geradas nas permanentes lutas partidárias que inviabilizavam a acção governativa;
·         organizam, armam e financiam milícias populares que espalham o terror entre as organizações socialistas;
·         procuram o apoio das altas patentes militares e preparam-se para a luta politica.

As classes médias têm diferentes reacções:
·         alguns sectores empobrecidos e proletarizados engrossaram as fileiras da agitação revolucionária;
·         a maioria, todavia, humilhada na sua honra e dignidade, indignada e revoltada contra a ascensão de alguns sectores do proletariado, amantes da ordem e da disciplina, sente-se facilmente atraída pela propaganda nacionalista e pelas promessas de autoridade e disciplina anunciadas demagogicamente por forças politicas em forte ascensão.

Era o tempo das ditaduras que se aproximava com o avanço da extrema-direita e o triunfo de regimes totalitários na Hungria, na Itália, na Turquia, na Espanha, na Albânia, na Lituânia, na Polónia, na Jugoslávia e Portugal.
Mas era a evolução política da Alemanha aquela que prenunciava consequências mais trágicas para a História do século XX europeu.