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Fernando Pessoa ortónimo (12º ano)
Síntese
®      Em Fernando Pessoa, há uma personalidade poética activa, designada de ortónimo, que conserva o nome do seu criador e uma pequena humanidade, formada por heterónimos, que correspondem a personalidades distintas.

®      No ortónimo, coexistem duas vertentes: a tradicional, na continuidade do lirismo português, e a modernista, que se manifesta como processo de ruptura. Na primeira, observa-se a influência lírica de Garrett ou do sebastianismo e do saudosismo, apresentando suavidade rítmica e musical, em versos geralmente curtos; na segunda, encontramos experimentações modernistas com a procura da intelectualização das sensações e dos sentimentos.

®      A poesia, a cujo conjunto Pessoa queria dar o título Cancioneiro, é marcada pelo conflito entre o pensar e o sentir, ou entre a ambição da felicidade pura e a frustração que a consciência-de-si implica.

®      Pessoa considera que a arte “é o resultado da colaboração entre o sentir e o pensar”. Daí a sensibilidade a fornecer à inteligência as emoções para a produção do poema.

®      Para exprimir a arte, o autor criativo precisa de intelectualizar o sentimento, o que pode levar a confundir a elaboração estética com um acto de “fingimento”. O poeta parte da realidade mas só consegue, com autêntica sinceridade, representar com palavras ou outros signos o “fingimento”, que não é mais do que uma realidade nova.

®      O fingimento artístico não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de representar, de exprimir intelectualmente as emoções ou o que quer representar.

®      O conceito de fingimento é o de transfigurar, pela imaginação e pela inteligência, aquilo que sente naquilo que escreve. Fingir é inventar, elaborar mentalmente conceitos que exprimem as emoções ou o que quer comunicar.

®      Entrar no jogo artístico, fingir ao exprimir as emoções, mas com toda a dimensão de sinceridade, implica e explica a construção da poesia de ortónimo.

®      A dialéctica da sinceridade/fingimento liga-se à da consciência/inconsciência e do sentir/pensar.

®      Fernando Pessoa não consegue fruir instintivamente a vida por ser consciente e pela própria efemeridade. Muitas vezes, a felicidade parece existir na ordem inversa do pensamento e da consciência.

®      Pessoa procura, através da fragmentação do eu, a totalidade que lhe permita conciliar o pensar e o sentir. A fragmentação esta evidente, por exemplo, em Meu coração é um pórtico partido, ou nos poemas interseccionistas Hora Absurda e Chuva Obliqua.


®      O interseccionismo entre o material e o sonho, a realidade e idealidade surge como tentativa para encontrar a unidade entre a experiência sensível e a inteligência.

®      O tempo, na poesia pessoana, é um factor de degradação, porque tudo é efémero. Isso leva-o a desejar ser criança de novo. Mas, frequentemente, o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão.

®      Pessoa sente a nostalgia da criança que passou ao lado das alegrias e da ternura. Chora, por isso, uma felicidade passada, para lá da infância.

®     O ortónimo tem uma ascendência simbolista evidente desde os tempos de Orpheu e do Paulismo.



O fingimento artístico
·         Para Fernando Pessoa, um poema “é produto intelectual”, e por isso, não acontece “no momento da emoção”, mas resulta da sua recordação. A emoção precisa de “existir intelectualmente”, o que só na recordação é possível.

·         Há uma necessidade da intelectualização do sentimento para exprimir a arte. Ao não ser um produto directo da emoção, mas uma construção mental, a elaboração do poema confunde-se com um “fingimento”.

·         Na criação artística, o poeta parte da realidade mas só consegue, com autentica sinceridade, representar com palavras ou outros signos o “fingimento”, que não é mais do que uma realidade nova, elaborada mentalmente graças à concepção de novas relações significativas, que a distanciação do real lhe permitiu.

·         O fingimento não impede a sinceridade, apenas implica o trabalho de representar, de exprimir intelectualmente as emoções ou o que quer representar.

A dor do pensar
·         Fernando Pessoa não consegue fruir instintivamente a vida por ser consciente e pela própria efemeridade. Muitas vezes, a felicidade parece existir na ordem inversa do pensamento e da consciência.

·         O pensamento racional não se coaduna com verdadeiramente sentir sensitivamente.

·         A dialéctica da sinceridade / fingimento liga-se à da consciência / inconsciência e do sentir /pensar.

·         A dor de pensar traduz insatisfação e dúvida sobre a utilidade do pensamento.

A nostalgia da infância
·         Frequentemente, para Fernando Pessoa o passado é um sonho inútil, pois nada se concretizou, antes se traduziu numa desilusão. Daí o constante cepticismo perante a vida real e de sonho.

·         O tempo, na poesia pessoana, é um factor de degradação, porque tudo é efémero. Isso leva-o a desejar ser criança novamente.

·         Pessoa sente a nostalgia da criança que passou ao lado das alegrias e da ternura. Chora, por isso, uma felicidade passada, para lá da infância.

·         Há uma nostalgia do bem perdido, do mundo fantástico da infância, único momento possível de felicidade.


Alberto Caeiro
®      Na obra de Caeiro, há um objectivismo absoluto. Não lhe interessa o que se encontra por trás das coisas. Recusa o pensamento, sobretudo o pensamento metafísico, afirmando que “pensar é estar doente dos olhos”.
®      Caeiro, poeta de olhar, procura ver as coisas como elas são, sem lhes atribuir significados ou sentimentos humanos. Considera que as coisas são como são.
®      Constrói uma poesia das sensações, apreciando-as como boas por serem naturais. Para ele, o pensamento apenas falsifica as coisas.
®      Numa clara oposição entre sensação e pensamento, o mundo de Caeiro é aquele que se percebe pelos sentidos, que se apreende por ter existência, forma e cor. O mundo existe e, por isso, basta senti-lo, basta experimentá-lo através dos sentidos, nomedamente através do ver.
®      Ver é compreender. Tentar compreender pelo pensamento, pela razão, é não saber ver. Alberto Caeiro vê com os olhos, mas não com a mente. Considera, no entanto, que é necessário saber estar atento à “eterna novidade do mundo”.
®      Condena o excesso de sensações, pois a partir de um certo grau as sensações passam de alegres a tristes.
®      Em Caeiro, a poesia das sensações é, também, uma poesia da natureza.
®      Optando pela vida no campo, acredita na Natureza, defendendo a necessidade de estar de acordo com ela, de fazer parte dela.
®      Pela crença na Natureza, o Mestre revela-se um poeta pagão, que sabe ver o mundo dos sentidos, ou melhor, sabe ver o mundo onde se revela o divino, em que não precisa de pensar.
®      Ao procurar ver as coisas como elas realmente são, sublima o real, numa atitude panteísta de divinização das coisas da natureza.
®      Nesta atitude panteísta de que as coisas são divinas, desvaloriza a categoria conceptual “tempo”.
®      O poeta confessa não ter “ambições nem desejos”. Ser poeta é a sua “maneira de estar sozinho”.

Ricardo Reis
®      Na poesia de Ricardo Reis, há um sentimento da fugacidade da vida, mas ao mesmo tempo uma grande serenidade na aceitação da relatividade das coisas e da miséria da vida.
®      A vida é efémera e o futuro imprevisível. “Amanhã não existe”, afirma o poeta. Estas certezas levam-no a estabelecer uma filosofia de vida, de inspiração horaciana e epicurista, capaz de conduzir o homem numa existência sem inquietações nem angústias.
®      Reconhecendo a fraqueza humana e a inevitabilidade da morte, Reis procura uma forma de viver com um mínimo de sofrimento. Por isso, defende um esforço lúdico e disciplinado para obter uma calma qualquer.
®      Sendo um epicurista, o poeta advoga a procura do prazer sabiamente gerido, com moderação e afastado da dor. Para isso, é necessário encontrar a ataraxia, a tranquilidade capaz de evitar qualquer perturbação. O ser humano deve ordenar a sua conduta de forma a viver feliz, procurando o que lhe agrada.
®      A obra de Ricardo Reis apresenta um epicurismo triste, uma vez que busca o prazer relativo, uma verdadeira ilusão da felicidade por saber que tudo é transitório.
®      A apatia, ou seja a indiferença, constitui o ideal ético, pois, de acordo com o poeta, há necessidade de saber viver com calma e tranquilidade, abstendo-se de esforços inúteis para obter uma glória ou virtude, que nada acrescentam à vida.
®      Próximo de Caeiro, há na sua poesia o sossego do campo, o fascínio pela natureza onde busca a felicidade relativa.
®      Discípulo de Alberto Caeiro, Ricardo Reis refugia-se na aparente felicidade pagã que lhe atenua o desassossego. Procura alcançar a quietude e a perfeição dos deuses, desenhando um novo mundo à sua medida, que se encontra por detrás das aparecias
®      Afirma uma crença nos deuses e nas presenças quase - divinas que habitam todas as coisas. Afirma que os homens se devem considerar com direito a vida própria.
®      Pagão por carácter e pela formação helénica e latina, há na sua poesia uma actualização de estoicismo e epicurismo, juntamente com uma postura ética e um constante diálogo entre o passado e o presente.

Álvaro Campos
®      Álvaro de Campos, a reflectir a insubmissão e rebeldia dos movimentos vanguardista da segunda década do século XX, olha o mundo contemporâneo e canta o futuro.
®      Álvaro de Campos é o poeta, que, numa linguagem impetuosa, canta o mundo contemporâneo, celebra o triunfo da máquina, da força mecânica e da velocidade. Dentro do espírito das vanguardas, exalta a sociedade e a civilização modernas com os seus valores e a sua “embriaguez”.
®      Diferentemente de Caeiro, que considera a sensação de forma saudável e tranquila, mas rejeita o pensamento, ou de Ricardo Reis, que advoga a indiferença olímpica, Campos procura a totalização das sensações, conforme as sente ou pensa, o que lhe causa tensões profundas.
®      Como sensacionista, é o poeta que melhor expressa as sensações da energia e do movimento, bem como as sensações de “sentir tudo de todas as maneiras”. Para ele a única realidade é a sensação.
®      Em Campos há a vontade de ultrapassar os limites das próprias sensações, numa vertigem insaciável, que o leva a querer “ser toda a gente e toda a parte”. Numa atitude unanimista, procura unir em si toda a complexidade das sensações.
®      O desassossego de Campos leva-o a revelar uma face disfórica, a ponto de desejar a própria destruição. Há aí a abulia e a experiencia do tédio, a decepção, o caminho do absurdo.
®      Incorporando todas as possibilidades sensoriais e emotivas, apresenta-se entre o paroxismo da dinâmica em fúria e o abatimento sincero, mas quase absurdo.
®      Depois de exaltar a beleza da força e da máquina por oposição à beleza tradicionalmente concebida, a poesia de Campos revela um pessimismo agónico, a dissolução do “eu”, a angústia existencial e uma nostalgia da infância irremediavelmente perdida.
®      Na fase intimista de abulia, observa-se a disforia do “eu”, vencido e dividido entre o real objectivo e o real subjectivo que leva à sensação do sonho e da perplexidade. Verifica-se, também. A presença do niilismo em relação a si próprio, embora reconheça ter “todos os sonhos do mundo”.
®      Álvaro de Campos evolui ao longo de três fases: a de influência decadentista a que pertence o Opiário; a futurista e sensacionista, de inspiração whitmaniana, onde encontramos, por exemplo, a Ode Triunfal e a Ode Marítima; e a intimista ou independente, marcada pela abulia e o tédio, pela angústia e o cansaço, com poemas como O que há em mim é sobretudo cansaço, Esta velha angustua, Apontamento, ou os de Lisbon revisited.
®      Na primeira fase, encontra-se o tédio de viver, a morbidez, o decadentismo, a sonolência, o torpor e a necessidade de novas sensações; na segunda fase, há um excesso de sensações, a tentativa de totalização de todas as possibilidades sensoriais e afectivas, a inquietude, a exaltação da energia, de todas as dinâmicas, da velocidade e da força até situações de paroxismo; na terceira fase, perante a incapacidade das realizações, volta o abatimento, a abulia, a revolta e o inconformismo, a dispersão e a angústia, o sono e o cansaço.

Mensagem e Lusíadas
Síntese
®    Os Lusíadas e a Mensagem cantam, em perspectivas diferentes, a grandeza de Portugal e o sentimento português.
®      Nas duas primeiras partes da Mensagem é possível um diálogo com Os Lusíadas; em O Encoberto, Pessoa situa-se no momento em que o Império Português parece desmoronar-se por completo e, assume, então, o cargo de anunciador de um novo ciclo que se anuncia, o Quinto Império, que não precisa de ser material, mas civilizacional.
®      Os Lusíadas são uma narrativa épica, que faz uma leitura mítica da História de Portugal. Em estilo elevado, canta uma acção heróica passada e analisa os acontecimentos futuros, cuja visão os deuses são capazes de antecipar.
®      Fernando Pessoa, no poema épico – lírico, canta, de forma fragmentária e numa atitude introspectiva, o império territorial, mas retrata o Portugal que “falta cumprir-se”, que se encontra em declínio a necessitar de uma nova força anímica.
®      Camões propõe o povo português como sujeito da acção heróica.
®      Camões procura perpetuar a memória de todos os heróis que construíram o Império Português; Fernando Pessoa descobre a predestinação desses heróis, para encontrar um novo heroísmo que exige grandeza de alma e capacidade de sonhar, quando o mesmo Império se mostra moribundo. 
®      Os nautas, incluindo Vasco da Gama, são símbolo do heroísmo lusíada, do seu espírito de aventura e da capacidade de vivência cosmopolita.
®      Em Lusíadas, Camões consegui fazer a síntese entre o mundo pagão e o mundo cristão; na Mensagem, Pessoa procura a harmonia entre o mundo pagão, o mundo cristão e o mundo esotérico.
®      Fernando Pessoa, na Mensagem, procura anunciar um novo império civilizacional. O “intenso sofrimento patriótico” leva-o a antever um império que se encontra para além do material.
®      Estrutura tripartida da Mensagem:
¬  Nascimento
¬  Vida
¬  Morte/renascimento

®      Os 44 poemas que constituem a Mensagem encontram-se agrupados em três partes:
F  Primeira Parte – Brasão (construtores do Império)
A primeira parte – Brasão – corresponde ao nascimento, com referência aos mitos e figuras históricas até D. Sebastião, identificadas nos elementos dos brasões. Dá-nos conta do Portugal erguido pelo esforço dos heróis e destinado a grandes feitos.

F  Segunda Parte – Mar Português (o sonho marítimo e a obra das descobertas)
Na segunda parte – Mar Português – surge a realização e a vida; refere personalidades e acontecimentos dos Descobrimentos que exigiram uma luta contra o desconhecido e os elementos naturais. Mas, porque “tudo vale a pena”, a missão foi cumprida. 

Mensagem
Lusíadas
Mitificação do herói
  • Os lusíadas mostram a história do povo que teve a ousadia da aventura marítima e a intenção em exaltar os heróis que contribuíram a alargaram o Império;

  •  Os navegantes, com destaque para Vasco da Gama, ultrapassam a individualidade do herói colectivo (povo), e são símbolos do heroísmo lusíada, do seu espírito de aventura e da capacidade de vivência cosmopolita;

  • Exprime a passagem do desconhecido para o conhecido, da realidade do Velho Continente e dos seus mitos indefinidos para novas realidades de um mundo a descobrir.

  • Ao contrário dos épicos anteriores, Camões escolheu um herói colectivo, procurando que a sua epopeia anunciasse a história de todo um povo, afirmando que os navegantes, que chegaram à Índia, e todos os heróis lusíadas merecem a mitificação;

  • Nega a existência de deuses, dizendo que estes são criação do homem para tentar justificar o que lhe parece difícil de explicar.

Felizmente há Luar
®      Felizmente há luar é um drama narrativo, de carácter social, dentro dos princípios do teatro épico; na linha de Brecht, analisa criticamente a sociedade, mostrando a realidade com o objectivo de levar o espectador a tomar uma posição.
®      Exprime a revolta contra o poder despótico e mostra o direito e o dever da mulher e do homem de transformarem a sociedade.
®      A obra Felizmente há Luar é entendida como uma alegoria politica. Sttau Monteiro remete o leitor/espectador para os problemas sociais e políticos de Portugal não apenas no início do século XIX e durante o regime ditatorial do século XX, mas para todos os regimes despóticos e situações repressivas.
®      Existe um paralelismo entre a acção presente na peça e os contextos ideológico e sociológico do país.
®      Há um mergulhador no passado onde se revisitam os acontecimentos históricos para levar o leitor/espectador a interpretar o presente e a reflectir sobre a necessidade de lutar contra qualquer opressão.
®      Graças à distanciação histórica, denúncia um ambiente politica repressivo dos inícios do século XIX, para provocar a reflexão sobre um tempo de opressão e de censura que se repete no século XX.
®      A figura central é o general Freire Gomes de Andrade, que, mesmo ausente, condiciona a estrutura interna da peça e o comportamento de todas as outras personagens.
®      O monólogo inicial de Manuel, “ o mais consciente dos populares”, coloca-nos no contexto histórico da obra: invasões napoleónicas e protecção de Inglaterra; situação de repressão do povo pelos “senhores do Rossio”.
®      Felizmente há Luar é uma obra intemporal que nos remete para a luta do ser humano contra a tirania, a injustiça e todas as formas de perseguição.
®      Matilde de Melo, “ a companheira de todas as horas”, possuidora de uma densidade psicológica notável, aparece na obra não apenas como sonhadora, que sabe amar de verdade, mas a personagem que, corajosamente, desmascara a hipocrisia e reage contra o ódio e as injustiças. Ela acredita na transformação da situação de opressão em que o povo vive.
®      Diversos símbolos favorecem a compreensão da situação vivida e da esperança de alcançar a liberdade: a saia verde, a luz, a noite, a lua, a fogueira, o lume, a moeda dos cinco réis, os tambores…
®      Narra a luta pela liberdade no início do século XIX e serve de pretexto para uma reflexão sobre a ditadura em Portugal no século XX. Todos os opressivos, e concretamente o regime salazarista, entre o inicio dos anos trinta e 1974, foram denunciados e contestados pelos artistas. A literatura, a música e outras artes foram o “veículo de protesto” contra a censura, contra a miséria.

Memorial do Convento
Síntese
®      Memorial do Convento evoca a História portuguesa do reinado de D. João V. no século XVIII, procurando uma ponte com as situações políticas de meados do século XX.
             Durante o reinado de D. João V, o rigor e as perseguições do Santo Oficio aumentam com vítimas que tanto podem ser cristãos-novos como todos os considerados culpados de heresias, por se associarem a práticas mágicas ou de superstição.
      Memorial do Convento caracteriza uma época de excessos e diferenças sociais, que se mantêm na actualidade: opulência/miséria; poder/opressão; devassidão/penitência; sagrado/profano; amor ausente/amor sincero…
Memorial do Convento é uma narrativa histórica que entrelaça personagens e acontecimentos verídicos com seres conseguidos pela ficção.
Romance histórico, oferece-nos uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa no início do século XVIII; romance social, dentro da linha neo-realista, preocupa-se com a realidade social, em que sobressai o operariado oprimido; romance de intervenção, visa denunciar a história repressiva portuguesa na primeira metade do século XX; romance de espaço, representa uma época, interessando-se por traduzir não apenas o ambiente histórico, mas também vários quadros sociais que permitem um melhor conhecimento do ser humano.
Existem duas linhas condutoras da acção: a construção do convento de Mafra e as relações entre Baltazar e Blimunda.
 A acção principal é a construção do convento de Mafra, que entrelaça o desejo megalómano do rei com o sofrimento do povo.
 Paralelamente à acção principal, encontra-se uma acção que envolve Baltazar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas, numa história de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia.
 As duas acções, que se encaixam, sugerem uma profunda humanidade trágica.
®      Os espaços físicos e sociais privilegiados são Lisboa e Mafra.
     As personagens servem a própria intenção do autor na necessidade de repensar os acontecimentos e as figuras históricas à luz de uma nova realidade criada no presente e pressentida no futuro.
      As personagens femininas adquirem, na obra, claro relevo: D. Maria Ana é a rainha triste e insatisfeita, que vive um casamento de aparecia e com escrúpulos morais nas relações sexuais e nos sonhos; Blimunda é a mulher com capacidades de vidente e possuidora de uma sabedoria muito própria, cheia de sensualidade e amor verdadeiro.
 Saramago rejeita a omnipotência do narrador, na medida em que considera que o é o autor que põe em causa o presente que conhece e o passado que lhe chega através das suas investigações. Para Saramago a omnipotência do narrador é pura ficção.

®      Uma voz narrativa controla a acção narrada, as motivações e os pensamentos das personagens, mas faz também as suas reflexões e juízos valorativos.
®      A historia torna-se matéria simbólica para reflectir sobre o presente, na perspective da denuncia e dela extrair uma moralidade que sirva para o futuro.

®      Observando Memorial do Convento, julgamos que a escrita saramaguiana persegue uma preocupação com o ser humano, a sua miséria e a sua luta, as injustiças e os seus anseios, a sua grandeza e os seus limites.

®      Em Memorial do Convento há, diversas vezes, um discurso de sobreposições narrativas com uma voz que tanto descreve como desconstrói as situações, que dialoga com o narratário ou manuseia as personagens como títeres, que domina os conhecimentos da historia ou se sente limitado, que faz ponderações ou ironiza.


Classificação (tipo de romance)
Romance histórico, social e de espaço que articula o plano da história com o plano do fantástico e da ficção.
O título sugere memórias de um passado delimitado pela construção do convento de Mafra e memórias do que de grandioso e trágico tem o símbolo do país.
Como ROMANCE HISTÓRICO, oferece-nos: uma minuciosa descrição da sociedade portuguesa da época, a sumptuosidade da corte, a exploração dos operários, referências à Guerra da Sucessão, autos-de-fé, construção do convento, construção da passarola pelo Padre Bartolomeu de Gusmão.
Como ROMANCE SOCIAL, é crónica de costumes.
Como ROMANCE DE INTERVENÇÃO, pois apresenta-nos a história repressiva portuguesa.


Categorias da Narrativa
Acção
  • O rei D. João V, Baltasar, Blimunda e o padre Bartolomeu de Gusmão protagonizam as diversas acções que se entretecem em Memorial do Convento.
  • A acção principal é a construção do Convento de Mafra: entrelaçamento de dados históricos com a promessa de D. João V e o sofrimento do povo que trabalhou no Convento.
  • Conhece-se a situação económica e social do país, os autos-de-fé praticados pela Inquisição, o sonho e a construção da passarola, as criticas ao comportamento do clero.
  • Paralelamente à acção principal, encontra-se uma acção que envolve Baltasar e Blimunda: fio condutor da intriga e que lhe conferem fragmentos de espiritualidade, de ternura, de misticismo e de magia.

Espaço
·         Físico: dois dos espaços físicos onde se desenrola a acção são:
v  Lisboa – espaço fulcral onde se destacam outros micro espaços:
1.       Terreiro do Paço: local onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa. É onde decorre a procissão do Corpo de Deus.
2.       Rossio: aparece no início da obra como o local onde decorrem o auto de fé e a procissão do Corpo de Deus.
3.       As ruas da capital: espaço onde o povo oprimido e ignorante sofre e, paradoxalmente vibra com as desgraças dos seus iguais e onde vive as principais celebrações do calendário religioso.
4.       S. Sebastião da Pedreira: espaço escolhido para a construção da passarola; é o único espaço que escapa ao poder opressor da igreja e à rígida hierarquia social da época. 
v  Mafra: espaço escolhido para a construção do Convento, particularmente Vela, que deu lugar à Vila Nova, à volta do edifício. Nos arredores da obra surge a “ilha madeira” – local onde se alojam os trabalhadores.

·         Social: é relatado através de determinados momentos e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social, caracterizando-o. A nível da construção social destaca-se os seguintes momentos:
Ø  Procissão da Quaresma
1.       Excessos praticados durante o Entrudo (satisfação dos prazeres carnais) e brincadeiras carnavalescas – as pessoas comiam e bebiam demasiado, atiravam água à cara umas das outras, batiam nas mais desprevenidas, tocavam gaitas, espojavam-se nas ruas.
2.       Penitencia física e mortificação da alma após os desregramentos durante o Entrudo.
3.       Descrição da procissão
4.       Manifestações de fé que tocavam a histeria enquanto o bispo faz sinais da cruz e um acólito balança o incensório; os penitentes recorrem à autoflagelaçao.
Visão do narrador:
O narrador afirma que apesar da tentativa de purificação através do incenso, Lisboa permanecia uma cidade suja, caótica e as suas gentes eram dominadas pela hipocrisia.
Ø  Autos de fé
1.       O Rossio está novamente cheio de gente: a população esta duplamente em festa, porque é domingo e porque vai assistir a um auto-de-fé.
2.       A assistência feminina, à janela exibe-se e preocupa-se com pormenores fúteis relativos à sua aparência física, e aproveita a ocasião para se entregar a jogos de sedução.
3.       A proximidade coma morte dos condenados constitui o motivo do ambiente de festa.
4.       Inicio da relação entre Baltasar e Blimunda
5.       Punição dos condenados pelo Santo Oficio – o povo dança em frente das fogueiras.
Visão do narrador:
O narrador revela a sua dificuldade em perceber se o povo gosta mais de autos-de-fé ou de touradas, evidenciando de forma irónica o gosto sanguinário e procura nas emoções fortes uma forma de preencher o vazio da sua existência que o povo releva.
Ø  Tourada
Visão do narrador:
O espectáculo começa e o narrador enfatiza a forma como os touros são torturados: exibição do sangue, das feridas, das tripas em publico;
A sua ironia é ainda traduzida pela constatação de que, em Lisboa, as pessoas não estranham o cheiro a carne queimada, acrescentando numa perspectiva crítica que a morte dos judeus é positiva, pois os seus bens são deixados à Coroa.
Ø  Procissão do Corpo de Deus
Preparação da procissão:
  1. O povo sente-se maravilhado com a riqueza da decoração.
  2. As damas aparecem às janelas, exibindo penteados.
  3.  À noite, passam pessoas que tocam e dançam, improvisa-se uma tourada.
  4. Durante a madrugada reúnem-se aqueles que formarão a procissão.
Realização da procissão:
  1. O evento começa de manhã cedo
  2. Descrição do aparato: à frente as bandeiras, seguidas dos tambores, trombeteiros, as irmandades, o estandarte do Santíssimo Sacramento, as comunidades e o rei, atrás Cristo crucificado e hinos sacros.

Visão do narrador:
  • Censura o luxo da igreja e do rei
  • Histeria colectiva das pessoas que se batem a si próprias e aos outros como manifestação da sua condição de pecadores.

Síntese (Procissão da Quaresma, Autos-de-fé e Procissão do Corpo de Deus)
  • As procissões e os autos de fé caracterizam Lisboa como um espaço caótico, dominado por rituais religiosos cujo efeito exorcizante esconjura um mal momentâneo que motiva a exaltação absurda que envolve os habitantes.
  • A desmistificação dos dogmas e acrítica irónica do narrador ao clero subjazem ao ideário marxista que condena visão redutora do mundo que a igreja apresenta, que condiciona os comportamentos, manipula os sentimentos e conduz os fiéis a atitudes estereotipadas.
  • A violência das touradas ou dos autos de fé apraz ao povo que, obscuro e ignorante, se diverte sensualmente com as imagens de morte, esquecendo a miséria em que vive.

Ø  O trabalho do Povo no Convento
  1. Mafra simboliza o espaço de servidão desumana a que D. João V sujeitou todos os seus súbditos para alimentar a sua vaidade.
  2. Vivendo em condições deploráveis, os trabalhadores foram obrigados a abandonar as suas casa e a erigir o convento para cumprir a promessa do seu rei e aumentar a sua glória. 
 Tempo


Personagens

Estrutura
Capítulo I
  • Anúncio da ida de D. João V ao quarto da rainha.
  • Desejo de D. Maria Ana: satisfazer o desejo do rei de ter um herdeiro para o reino.
  • Passatempo do rei: construção, em miniatura, da Basílica de S. Pedro de Roma.
  • Premonição de um franciscano: o rei terá um filho se erguer um convento franciscano em Mafra.
  • Promessa do rei: mandar construir um convento se a rainha lhe der um filho no prazo de um ano.
  • Chegada do Rei ao quarto da rainha, decidido a ver cumprida a promessa feita a Frei António de S. José.

Capítulo II
  • Referência a milagres franciscanos que auguram a promessa real: história de Frei Miguel da Anunciação (o corpo que não corrompia e os milagres); história de Sto. António (seus milagres e castigos); os precedentes franciscanos.
  • Visão crítica do narrador face às promessas e milagres dos franciscanos: o mundo marcado por excesso de riqueza e extrema pobreza.

Capítulo III
  • Reflexões sobre Lisboa: condições de vida; visão abjecta da cidade no Entrudo; crítica a hábitos religiosos, à procissão da penitência, à Quaresma.
  • O estado de gravidez da rainha (da condição de mulher comum à sua infinita religiosidade).
  • O sonho da rainha com o cunhado (tópico da traição).

Capítulo IV
  • Apresentação de Baltasar Mateus: Sete-Sóis, 26 anos, natural de Mafra, maneta à esquerda, na sequência da Batalha de Jerez de los Caballeros (Espanha).
  • Estada em Évora, onde pede esmola para pagar um gancho de ferro e poder substituir a mão
  • Percurso até Lisboa, onde vive muitas dificuldades.
  • Indecisão de Baltasar: regressar a Mafra ou dirigir-se ao Terreiro do Paço (Lisboa) e pedir dinheiro pela mutilação na guerra.
  • Encontro de Baltasar Sete-Sóis com um amigo, antigo soldado: João Elvas.
  • Referências ao crime na cidade lisboeta e ao Limoeiro.

Capítulo V
  • Fragilidade de D. Maria Ana, com a gravidez e com a morte do seu irmão José (imperador da Áustria).
  • Apresentação de Sebastiana Maria de Jesus, mãe de Blimunda (Sete Luas) - condenada ao degredo (Angola), por ter visões e revelações.
  • Espectáculo do auto de fé assistido por Blimunda, na companhia do padre Bartolomeu Lourenço.
  • Proximidade de Baltasar Mateus (Sete-Sóis), que trava conhecimento com Blimunda assim que esta lhe pergunta o nome.
  • Paixão de Baltasar pelos olhos de Blimunda.
  • União de Bartolomeu Lourenço, Blimunda e Baltasar, após o auto de fé, tendo o ex-soldado acompanhado o padre e Blimunda a casa desta, onde comeram uma sopa.
  • Apresentação de Blimunda como vidente (quando está em jejum vê as pessoas “por dentro”).
  • Consumação do amor de Baltasar e Blimunda (19 anos, virgem), com esta a prometer que nunca o olhará por dentro.

Capítulo VI

  • Visão crítica das leis comerciais.
  • Narrativa de João Elvas, a Baltasar, sobre um suposto ataque dos franceses a Lisboa (que mais não era do que a chegada de uma frota com bacalhau).
  • Conflito de Baltasar: saber a cor dos olhos de Blimunda.
  • Deslocação do Padre Bartolomeu Lourenço ao Paço para interceder por Baltasar (a fim de este receber uma pensão de guerra) e compromisso de falar com o Rei, caso tarde a resposta.
  • Apresentação, por João Elvas, de Bartolomeu Lourenço como o Voador (as diversas tentativas levadas a cabo pelo padre para voar, justificando-se, este, que a necessidade está na base das conquistas do homem; o conhecimento da mãe de Blimunda, dadas as visões que esta tinha de pessoas a voar).
  • Questão de Baltasar ao padre: o facto de Blimunda comer pão, de manhã, antes de abrir os olhos.
  • Apresentação da passarola a Baltasar, pelo Padre B. Lourenço (S. Sebastião da Pedreira).
  • Descrição da passarola, a partir do desenho que o padre mostra a Baltasar.
  • Convite do Padre para que Baltasar o ajude na construção da passarola.

Capítulo VII
  • Trabalho de Baltasar num açougue.
  • Evolução da gravidez da rainha, tendo o rei de se contentar com uma menina.
  • Rendição das frotas portuguesas do Brasil aos franceses.
  • Visita de Baltasar e Blimunda à zona enfeitada para o baptismo da princesa, estando aquele mais cansado do que habitualmente, por carregar tanta carne para o evento.
  • Morte do frade que formulou a promessa real; fidelidade de D. João V à promessa.

Capítulo VIII
  • Relação amorosa de Baltasar e Blimunda.
  • Procura de Baltasar a propósito do misterioso acordar de Blimunda: esta conta-lhe que, em jejum, consegue ver o interior das pessoas; daí comer o pão ao acordar para não ver o interior de Baltasar.
  • Indicação de Blimunda, a Baltasar, acerca do seu dom: vê o interior dos outros e “vê” a nova gravidez da rainha.
  • Falha na obtenção da tença pedida ao Paço para Baltasar e despedimento do local onde este trabalhava (açougue).
  • Nascimento do segundo filho do rei, o infante D. Pedro.
  • Deslocação de El-rei a Mafra, para escolher a localização do convento (um alto a que chamam Vela).

Capítulo IX
  • Auxílio de Baltasar ao padre Lourenço na construção da passarola, tendo-lhe este dado a chave da quinta do duque de Aveiro, onde se encontra a “máquina de voar”.
  • Visita de Baltasar à quinta, acompanhado de Blimunda.
  • Inspecção de Blimunda, em jejum, à máquina em construção para descobrir as suas fragilidades.
  • Atribuição, pelo Padre B. Lourenço, dos apelidos de Sete-Sóis e Sete-Luas, respectivamente, a Baltasar e a Blimunda (ele vê “às claras” e ela “vê às escuras”).
  • Deslocação do Padre à Holanda, para aprender com os alquimistas a fazer descer o éter das nuvens (necessário para fazer voar a passarola).
  • Realização de novo auto-de-fé, mas Baltasar e Blimunda permanecem em S. Sebastião da Pedreira.
  • Partida de Baltasar e Blimunda para Mafra e do padre para a Holanda, ficando aqueles responsáveis pela passarola.
  • Ida à tourada, antes de Baltasar e Blimunda partirem de Lisboa.
Capítulo X
  • Visita de Baltasar à família, com apresentação de Blimunda e explicação da perda da mão.
  • Vivência conjunta e harmoniosa na família de Baltasar.
  • Venda das terras do pai de Baltasar, por causa da construção do convento.
  • Trabalho procurado por Baltasar.
  • Comparação entre a morte e o funeral do filho de dois anos da irmã de Baltasar e a morte do infante D. Pedro.
  • Nova gravidez da rainha, desta vez do futuro rei.
  • Comparação dos encontros de Baltasar com Blimunda e do rei com a rainha.
  • A frequência dos desmaios do rei e a preocupação da rainha.
  • O desejo de D. Francisco, irmão do rei, casar com a rainha, à morte deste.

Capítulo XI
  • Regresso de Bartolomeu Lourenço da Holanda, passados três anos, e o abandono da abegoaria (quinta de S. Sebastião da Pedreira).
  • Constatação do padre de que Baltasar cuidara da passarola, conforme lhe havia pedido.
  • Deslocação a Coimbra, passando por Mafra para saber de Baltasar e Blimunda.
  • Reflexão sobre o papel que cada um tem na construção do futuro, não estando este apenas nas mãos de Deus.
  • Atribuição de bênção a quem a pede, deparando o padre, no caminho para Mafra, com trabalhadores (comparados a formigas).
  • Conversa do Padre com um pároco, ficando a saber que Baltasar e Blimunda casaram e onde vivem.
  • Visita do padre ao casal de amigos e conversa sobre a passarola.
  • Bartolomeu Lourenço na casa do padre Francisco Gonçalves, a pernoitar.
  • Encontro de Blimunda e Baltasar com padre B. Lourenço, de manhã muito cedo, quando ela ainda está em jejum.
  • Apresentação, a Baltasar e Blimunda, do resultado de aprendizagem do Padre na Holanda: o éter que fará voar a passarola vive dentro das pessoas (não é a alma dos mortos, mas a vontade dos vivos).
  • Pedido de auxílio do Padre a Blimunda: ver a vontade dos homens (esta consegue ver a vontade do padre) e colhê-la num frasco.
  • Deslocação de Bartolomeu Lourenço a Coimbra para aprofundar os seus estudos e se tornar doutor.
  • Ida de Blimunda e Baltasar para Lisboa: ela, para recolher as vontades; ele, para construir a passarola.

Capítulo XII
  • Tomada da hóstia, em jejum: Blimunda descobre que o que está dentro desta é o mesmo que está dentro do homem – a religião.
  • Festividades da inauguração da construção do convento e do lançamento da primeira pedra (três dias), a ter lugar numa igreja–tenda ricamente decorada e com a presença de D. João V.
  • Baltasar e Blimunda na inauguração.
  • Passada uma semana, partida do casal para Lisboa.

 

Capítulo XIII

  • Verificação de Baltasar relativamente ao estado enferrujado da máquina, seguida dos arranjos necessários e da construção de uma forja enquanto o padre não chega.
  • Chegada do padre, dizendo a Blimunda que serão necessárias, pelo menos, duas mil vontades para a passarola voar (tendo ela apenas recolhido cerca de trinta).
  • Conselho do Padre para que Blimunda recolha vontades na procissão do Corpo de Deus.
  • Regresso do Padre a Coimbra para concluir os seus estudos.
  • Trabalho de Baltasar e Blimunda na máquina, durante o Inverno e a Primavera, e chegada, por vezes, do padre com esferas de âmbar amarelo (que guardava numa arca).
  • Perspectivas de a procissão do Corpo de Deus ser diferente do normal.
  • Perda da capacidade visionária de Blimunda, com a chegada da lua nova.
  • Saída da procissão (8 de Junho de 1719) – só no dia seguinte, com a mudança da lua, Blimunda recupera o seu poder.

 

Capítulo XIV

  • Regresso do Padre Bartolomeu Lourenço de Coimbra, doutor em cânones.
  • Novo estatuto do padre: fidalgo capelão do rei, vivendo nas varandas do Terreiro do Paço.
  • Relação do padre com o rei: este apoia a aventura da passarola, exprimindo o desejo de voar nela.
  • Lição de música (cravo) da infanta D. Maria Bárbara (8 anos), sendo o seu professor o maestro Domenico Scarlatti.
  • Conversa do padre com Scarlatti, depois da lição.
  • Audição, em toda a Lisboa, de Scarlatti a tocar cravo, em privado.
  • Scarlatti em S. Sebastião da Pedreira, a convite de Bartolomeu Lourenço (após dez anos de Baltasar e Blimunda terem entrado na quinta).
  • Apresentação a Scarlatti do casal e da máquina de voar.
  • Convite a Scarlatti para visitar a quinta sempre que quiser.
  • Ensaio do sermão de Bartolomeu Lourenço para o Corpo de Deus (tema: Et ego in illo).

 

Capítulo XV

  • Censura do sermão de Bartolomeu Lourenço por um consultor do Santo Ofício.
  • S. Sebastião da Pedreira recebe o cravo de Scarlatti.
  • Vontade de Scarlatti voar na passarola e tocar no céu.
  • Ida de Baltasar e Blimunda a Lisboa (dominada pela peste), à procura de vontades.
  • Doença estranha de Blimunda, após a recolha de duas mil vontades.
  • Apoio de Baltasar e recuperação de Blimunda após audição da música de Scarlatti.
  • Encontro do casal com o padre Bartolomeu Lourenço.
  • Remorsos de Bartolomeu Lourenço por ter colocado Blimunda em perigo de vida.
  • Vontade de Bartolomeu Lourenço informar o rei de que a máquina está pronta, não sem a experimentar primeiro.

Capítulo XVI
  • Reflexão sobre o valor da justiça.
  • Morte de D. Miguel, irmão do rei, devido a naufrágio.
  • Necessidade de o Rei devolver a quinta de S. Sebastião da Pedreira ao Duque de Aveiro, após anos de discussão na Justiça.
  • Vontade do Padre experimentar a máquina para, depois, a apresentar ao rei.
  • Receio do Padre face ao Santo Ofício: o voo entendido como arte demoníaca.
  • Fuga do Padre, procurado pela Inquisição, na passarola.
  • Destruição da abegoaria para a passarola poder voar.
  • Voo da máquina com o Padre, Baltasar e Blimunda e descrição de Lisboa vista do céu.
  • Abandono do cravo num poço da quinta para Scarlatti não ser perseguido pelo Santo Ofício.
  • Perseguição de Bartolomeu Lourenço pela Inquisição.
  • Divisão de tarefas na passarola e preocupação do Padre: se faltar o vento a passarola começa a cair e o mesmo acontecerá quando o sol se puser.
  • Visão de Mafra a partir do céu: a obra do convento, o mar.
  • Cepticismo dos habitantes que vêem a passarola nos céus.
  • Descida e pouso da passarola numa espécie de serra, com a chegada da noite.
  • Tentativa de destruição da passarola, por Bartolomeu Lourenço (fogo), mas Baltasar e Blimunda impedem-no.
  • Fuga do padre e camuflagem da máquina com ramos das moitas, na serra do Barregudo.
  • Chegada de Baltasar e Blimunda, dois dias depois, a Mafra, fingindo que vêm de Lisboa.
  • Procissão em Mafra em honra do Espírito Santo, que sobrevoou as obras da basílica (na perspectiva dos habitantes).

Capítulo XVII
  • Trabalho procurado por Baltasar e Álvaro Diogo com a hipótese de ele trabalhar nas obras do convento.
  • Baltasar na Ilha da Madeira, local de alojamento para os trabalhadores do convento.
  • Descrição da vida nas barracas de madeira (mais de 200 homens que não são de Mafra).
  • Verificação do atraso das obras (feita por Baltasar) – motivos: chuva e transporte dos materiais dificultam o avanço.
  • Notícias de um terramoto em Lisboa.
  • Regresso de Baltasar ao Monte Junto, onde se encontra a passarola.
  • Visita de Scarlatti ao convento e encontro com Blimunda, sendo esta informada de que Bartolomeu de Gusmão morreu em Toledo, no dia do terramoto.

 

Capítulo XVIII

  • Enumeração dos bens do Império de D. João V.
  • Enumeração dos bens comprados para a construção do convento.
  • Realização de uma missa numa capela situada entre o local do futuro convento e a Ilha da Madeira.
  • Apresentação dos trabalhadores do convento e apresentação de Baltasar Mateus (já com 40 anos).

 

Capítulo XIX

  • Os trabalhos de transporte de pedra-mãe (Benedictione).
  • Mudança de serviço no trabalho de Baltasar: dos carros de mão à junta de bois.
  • Notícia da necessidade de ir a Pêro Pinheiro buscar uma pedra enorme (Benedictione).
  • Trabalho dos homens em época de calor e descrição da pedra.
  • Ferimento de um homem (perda do pé) no transporte da pedra (“Nau da Índia”).
  • Narrativa de Manuel Milho (história de uma rainha e de um ermitão).
  • Segundo dia do transporte da pedra e retoma da narrativa de Manuel Milho.
  • Chegada a Cheleiros e morte de Francisco Marques (atropelado pelo carro que transporta a pedra) bem como de dois bois.
  • Velório do corpo do trabalhador.
  • Manuel Milho retoma a narrativa.
  • Missa e sermão de domingo.
  • Final da história narrada por Manuel Milho.
  • Chegada da pedra ao local da Basílica, após oito dias de percurso.

Capítulo XX
  • Regresso de Baltasar, na Primavera, ao Monte Junto, depois de seis ou sete tentativas.
  • Companhia de Blimunda, passados três anos da descida da passarola, nesse regresso.
  • Confidência de Baltasar ao pai: o destino da sua viagem e o voo na passarola.
  • Renovação da passarola graças à limpeza feita por Baltasar e Blimunda.
  • Descida do casal a Mafra, localidade infestada por doenças venéreas.
  • Morte do pai de Baltasar.

 

Capítulo XXI

  • Auxílio desmotivado da Infanta D. Maria e do Infante D. José na construção da Basílica de S. Pedro (brinquedo de D. João V).
  • Encomenda de D. João V ao arquitecto Ludovice para construir uma basílica como a de S. Pedro na corte portuguesa.
  • Desencorajamento de Ludovice, convencendo o rei a construir um convento maior em Mafra.
  • Conversa de D. João V com o guarda-livros sobre as finanças portuguesas e preparativos para o aumento da construção do convento em Mafra.
  • Intimação de um maior número de trabalhadores para cumprimento da vontade real.
  • O rei e o medo da morte (que o possa impedir de ver a obra final).
  • Vontade de D. João V em sagrar a basílica no dia do seu aniversário, daí a dois anos (22/10/1730).
  • Chegada de um maior número de trabalhadores a Mafra (500).

 

Capítulo XXII

  • Casamento da Infanta Maria Bárbara com o príncipe D. Fernando de Castela e casamento do príncipe D. José com Mariana Vitória.
  • Participação de João Elvas no cortejo real para encontro dos príncipes casadoiros.
  • Partida do rei para Vendas Novas.
  • Percurso do rei na direcção de Montemor.
  • Trabalho de João Elvas no arranjo das ruas, após chuva torrencial, para que o carro da rainha e da princesa possa prosseguir para Montemor.
  • Esforço dos homens para tirar o carro da rainha de um atoleiro.
  • João Elvas recorda o companheiro Baltasar Mateus junto de Julião Mau-Tempo.
  • Conversa destes e a suspeita de que Baltasar voou com Bartolomeu de Gusmão.
  • Tempo chuvoso no percurso de Montemor a Évora.
  • Lembrança da princesa de que desconhece o convento que se está a erguer em favor do seu nascimento, depois de ver homens presos a serem enviados para trabalhar em Mafra.
  • Encontro do rei com a rainha e os infantes em Évora.
  • Cortejo real dirigido para Elvas, oito dias após a partida de Lisboa para troca das princesas peninsulares.
  • Reis de Espanha em Badajoz.
  • Chegada do rei, da rainha e dos infantes ao Caia, a 19 de Janeiro.
  • Cerimónia da troca das princesas peninsulares.
Capítulo XXIII
  • Cortejo de estátuas de santos em Fanhões.
  • Deslocação de noviços para Mafra nas vésperas de sagração do convento.
  • Chegada dos noviços.
  • Regresso de Baltasar a casa depois do trabalho.
  • Ida de Baltasar e Blimunda ao local onde se encontram as estátuas.
  • Apreensão de Blimunda ao saber que passados seis meses Baltasar vai ver a passarola.
  • O casal no círculo das estátuas e reflexão sobre a vida e a morte.
  • Despedida amorosa de Baltasar e Blimunda na barraca do quintal.
  • Chegada de Baltasar à Serra do Barregudo.
  • Entrada de Baltasar na passarola, seguida da queda deste e do voo da máquina.

Capítulo XXIV

  • Espera de Blimunda e posterior busca de Baltasar.
  • Entrada do rei em Mafra.
  • Grito de Blimunda ao chegar ao Monte Junto, depois de descobrir que a passarola não se encontrava no local habitual.
  • Encontro de Blimunda com um frade dominicano que a convida a recolher-se numa ruínas junto ao convento.
  • Tentativa de violação de Blimunda pelo frade e morte deste com o espigão que ela lhe enterra entre as costelas.
  • Blimunda faz o caminho de regresso a casa.
  • A ansiedade de Blimunda depois de duas noites sem dormir.
  • Final das festividades do dia, em Mafra.
  • Informação de Álvaro Diogo sobre quem está para chegar a Mafra.
  • Dia do aniversário do rei e da sagração da basílica.
  • Cortejo assistido por Inês Antónia e Álvaro Diogo, acompanhados por Blimunda.
  • Bênção do patriarca na Benedictione.
  • Final do primeiro dos oito dias de sagração e saída de Blimunda para procurar Baltasar.

Capítulo XXV

  • Procura de Baltasar por Blimunda ao longo de nove anos.
  • Apelido de Blimunda: a voadora.
  • Identificação de Blimunda com a terra onde ela permaneceu por largo tempo a ajudar os que dela se socorriam: Olhos de Água.
  • Passagem de Blimunda por Mafra e tomada de conhecimento da morte de Álvaro Diogo.
  • Sétima passagem desta por Lisboa.
  • Encontro de Blimunda (em jejum) com Baltasar, que está a ser queimado num auto-de-fé, junto com António José da Silva (O Judeu), em 1739.
·         Recolha da vontade de Baltasar por Blimunda.

Aspectos Símbolicos 
Convento de Mafra
·         Representa a ostentação régia e o místico religioso, mas também testemunha a dureza a que o povo está sujeito, a miséria em que vive, a exploração a que é sujeito apesar da riqueza do país.

Passarola voadora
·         Simboliza a harmonia entre o sonho e a sua realização, o desejo de liberdade.
·         Permitiu a união entre Bartolomeu Lourenço, Baltasar e Blimunda, que juntaram a ciência, o trabalho artesanal, a magia e a musica para construir e fazer voar a passarola.
·         Símbolo de fraternidade e igualdade capaz de unir os homens cultos e os populares.

Blimunda
  • Representa um elemento mágico difícil de explicar: possui poderes sobrenaturais que lhe permite compreender a vida, a morte, o pecado e o amor.
  • Através de Blimunda o narrador tenta entrar dentro da história da época e denunciar a moral duvidosa, os excessos da corte, o materialismo e hipocrisia do clero, as perseguições i injustiças da inquisição, a miséria e diferenças sociais. 

Número “sete”
·         É o número de dias de cada ciclo lunar, que regula os ciclos de vida e da morte na Terra.
·         Símbolo de sabedoria e de descanso no fim da criação.

Sete-Sóis / Sete-Luas
  • O sete associa-se ao sol e à lua:
    1. O sol símbolo de vida, associa-se ao povo que trabalha incessantemente, como o próprio Baltasar, apesar de decepado.
    2. a lua não tem luz própria, depende do sol, tal como Blimunda depende de Baltasar. A lua atravessa fases, o que representa a periodicidade e a renovação.
Cobertor
  • Símbolo de afastamento, da separação que marca o casamento de convivência entre o rei e a rainha.
  • Liga-se à frieza do amor, à ausência do prazer, esconde desejos insatisfeitos.


Colher
  • Símbolo de aliança, da “união de facto”, de compromisso sagrado.
Exprime o amor autêntico numa relação de paixão, a atracção erótica de um casal que se completa.