Sociologia


Ciências Sociais e Sociologia

            O mundo em que vivemos é constituído pelo meio ambiente e os seres vivos que ocupam esse meio. Entre esses seres vivos, destacam-se os seres humanos que, para além de estabelecerem relações entre si, têm transformado o mundo natural.
            Neste sentido, no mundo que nos rodeia, podemos constatar a existência de:
ü  uma realidade natural constituída por elementos físicos e naturais (ex: clima, animais)
ü   uma realidades social constituída por seres humanos, organizados em sociedades
            Os seres humanos desde sempre viveram em grupo, estabelecendo relações entre si e com a natureza e desenvolvendo actividades em comum, o que os fez partilhar traços culturais, como no caso da forma de expressão utilizada: a linguagem.
          Por outro, lado na vida social, acção dos indivíduos desenrola-se a vários níveis – vida familiar, escola, trabalho, etc. – e com grupos de diferentes dimensões, desde os mais restritos, como a família, até ao mais alargado a sociedade.



 
         Deste modo, a realidade social apresenta um elevado grau de complexidade que resulta, precisamente, do facto de as acções dos indivíduos se desdobrarem em domínios e em grupos diversos e reflectirem as suas origens e percursos sociais.
             O objecto real das ciências sociais é o estudo da realidade social e dos fenómenos que resultam da vida em sociedade – fenómenos sociais.
            Com efeito, a complexidade da realidade social possibilita a constituição de diferentes ciências sociais – Historia, Geografia, Economia, etc. – que delimitam e constroem o seu objecto a partir da análise  dessa realidade.
            Assim, cada uma das ciências sociais estuda de uma forma parcialmente diferente os fenómenos sociais, valorizando a dimensão do fenómeno que lhe interessa estudar – económica, sociológica, demográfica, etc.
             Contudo, o facto de cada uma das ciências sociais analisar uma dimensão dos fenómenos sociais não significa que a realidade social se possa compartimentar numa realidade política, económica, etc.
             As ciências sociais estudam a mesma realidade social sob uma pluralidade de pontos de vista, que se complementam umas às outras.


Génese e objecto da Sociologia
Génese da Sociologia

            Os seres humanos desde muito cedo se constituíram em sociedades estáveis, sendo possível imaginar, pelo facto de terem de resolver os problemas que se lhes colocavam, tenham começado reflectir sobre a sociedade em que viviam. Contudo, as ciências sociais só surgem mais tarde, posteriormente às ciências exactas e naturais.
             A palavra Sociologia é usada pela 1ª vez por Augusto Comte (1798-1857), para designar o «estudo positivo do conjunto das leis fundamentais próprias aos fenómenos sociais».
            Com efeito, após a Revolução Industrial e a Revolução Francesa (séc. XVIII), que pretendia transformar a sociedade e tinha associado um projecto de construção de uma nova ordem social, criaram-se condições para que a sociedade se tornasse um campo de acção, onde se podia intervir directamente.
            Neste novo contexto, estavam criadas as condições para o aparecimento das ciências sociais, pois estas, ao estudarem os fenómenos sociais de uma forma objectiva e sistemática, permitiam um conhecimento da realidade social que facilitava a intervenção social.
            Deste modo, a Sociologia ao tentar compreender, por exemplo, a forma como se organizavam as sociedades ou como se desenrolavam os processos de mudança social, contribuía de forma decisiva para um melhor entendimento da realidade social.
            Contudo, se Comte inventou o termo Sociologia, os seus fundadores como disciplina científica foram:

v  Émile Durkheim (1857-1917);
v  Max Weber (1864-1920);
v  Karl Marx (1818-1883).

Com efeito, os contributos destes autores foram decisivos para a construção do seu objecto científico e do seu método.

O objecto da Sociologia

             O objecto real da Sociologia é o estudo dos fenómenos que se produzem e reproduzem na sociedade - fenómenos sociais.
            Contudo, nem todos os acontecimentos humanos podem ser designados por sociais. Quer isto dizer que os fenómenos sociais apresentam características próprias que os distinguem de outros fenómenos que ocorrem no interior da sociedade.
            Para Durkheim, os fenómenos sociais – factores sociais - «apresentam características muito especiais: consistem em maneiras de agir, de pensar e de sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotados de um poder coercitivo, em virtude do qual se lhe impõe».
             Deste modo, os factores sociais apresentam as seguintes características:

v  exterioridade;
v  coercitividade;
v  relatividade.

Exterioridade

            Na vida em sociedade, os indivíduos desempenham vários papéis (ex filho, aluno). Esses papéis existem independentemente de nós, ou seja, o seu desempenho é condicionado pela educação que recebemos.
            Deste modo os indivíduos, ao estarem inseridos numa família, numa sociedade, etc., aprendem maneiras de agir, pensar e sentir que não foram por eles criada, isto é, são exteriores aos indivíduos.

Coercitividade

            As maneiras de agir, pensar e sentir são aprendidas pelos indivíduos através do processo de educação de uma forma imperativa, isto é, existem sanções para quem não as respeita.
            Neste sentido, os factos sociais, para além de serem exteriores ao indivíduo, também lhe são impostos coercitivamente.

Relatividade

            Com efeito, as maneiras de agir, pensar e sentir dos indivíduos não são as mesmas em todo o mundo, pois variam de sociedade para sociedade, de grupo para grupo, etc.
             Por outro lado, na mesma sociedade ou no mesmo grupo, os tipos de conduta também se transformam ao longo do tempo.
           
            A Sociologia analisa a realidade social, encara os fenómenos sociais como factos sociais que envolvem relações entre os indivíduos e integra-os no seu contexto social.
            Por outro lado, a Sociologia também se interessa por tentar compreender o sentido que os indivíduos dão as suas acções.
            Finalmente, outro aspecto fundamental da análise sociológica é procurar encontrar causas sociais para os fenómenos sociais, isto é, as determinações sociais da acção dos indivíduos.
           
             O facto de se encontrarem regularidades, com um carácter duradouro, nos fenómenos sociais significa que as acções dos indivíduos não acontecem por acaso ou por imprevisto.
            Com efeito, o comportamento dos indivíduos é condicionado pela sociedade em que estão inseridos, pois existem regras e princípios que modelam de forma regular e permanente as suas acções.
            Este conjunto de constrangimentos sociais exercidos sobre a acção dos indivíduos costuma designar-se por estrutura social.


Interacção social

Na vida quotidiana os indivíduos relacionam-se uns com os outros, com os seus familiares, amigos, colegas de emprego, etc. Mas tampem se estabelece outro tipo de relacionamentos mais esporádicos (ex: no cinema).
Deste modo, os indivíduos estão constantemente a agir e reagir com aqueles que nos rodeiam. Este processo de relacionamento dos indivíduos uns com os outros, designa-se por interacção social.
Na sua vida quotidiana, os indivíduos estão sempre em interacção uns com os outros, expressando as suas reacções por palavras ou através de formas não verbais.
Muitas vezes, essas rotinas de quotidiano, com situações de interacção muito semelhantes, tipificam formas de relacionamento, ou seja, padrões de interacção.
Os indivíduos estão, assim, envolvidos em padrões de interacção no decurso da vida quotidiana, que se desenrolam em vários espaços – habitação, escola, rua, etc.
Estes padrões de interacção constituem a base de estruturação da sociedade, pois a vida, organiza-se em torno da repetição das interacções.
Mas, por outro lado, estas interacções também contribuem para a construção social da realidade, na medida em que os indivíduos, agindo e tomando decisões de forma criativa, podem contribuir para transformar a realidade social.
Os relacionamentos que os indivíduos estabelecem não são todos do mesmo tipo, correspondendo a situações de interacção diferentes.
Com efeito, a interacção social tanto pode implicar um envolvimento directo dos indivíduos, como também se pode desenrolar entre pessoas que, estando no mesmo local não estabelecem comunicação directa.
Por outro lado, os espaços onde ocorrem as interacções também podem ser diferentes. Assim, podemos travar conhecimento com outras pessoas em situação de carácter:
§  Formal – ex: sala de aula ou local de trabalho
§  Informal – ex. transportes públicos ou num espectáculo

A interacção no tempo e no espaço
A interacção social ocorre sempre num determinado espaço e tem uma duração específica de tempo.


Grupos Sociais
Os indivíduos estão constantemente a agir e a reagir com aqueles que os rodeiam, mas apenas alguns deles interagem de forma contínua.
Grupo social conjunto de indivíduos que pelo facto de partilharem entre si objectivos e interesses, interagem de uma forma regular e duradoura. Essa vivência em comum leva a que o grupo construa uma estrutura e identidades próprias e a que os seus membros desenvolvam um sentimento de pertença ao grupo.
A identidade do grupo é, muitas vezes, expressa pelas atitudes e condutas semelhantes partilhadas pelos seus membros, ou seja, os membros de um grupo tem uma certa unidade na forma de pensar, de agir e de reagir.
A estrutura de um grupo, nalguns casos, pode levar à criação de regras próprias e de sanções (pressões psicológicas) para os seus membros que violem as regras estabelecidas.
Características de grupos sociais:
§  Objectivos comuns
§  Identificação
§  Normas e valores
§  Relações mútuas
§  Estrutura
§  Diferenciação de papéis
§  Duração
Grupo de pertença e grupo de referência


Critérios
Categorias





Classificação dos Grupos Sociais

Posição do indivíduo face ao grupo
Grupo de Pertença
Grupo de Referência
Natureza de relacionamento entre os membros do grupo
Grupo Primário
Grupo Secundário

Função social desempenhada
Família
Empresa
Partido Político
Clube Desportivo
Igreja


            Nas sociedades actuais encontramos uma grande diversidade de grupos, o que significa que os indivíduos no decurso da sua vida social, participam em grupos sociais de diferentes tipos e dimensões – família, escola, grupos de amigos, empresa, etc. – e alguns deles em simultâneo
            Grupos de pertença – grupos em que os indivíduos efectivamente pertencem
             Grupo de referência – grupos com os quais os indivíduos se tentam identificar, de uma maneira consciente ou inconsciente
            Os indivíduos podem ser influenciados pelas características de grupos a que não pertencem, nomeadamente porque consideram que estes defendem valores que gostariam de partilhar ou porque associam os seus membros a uma posição social superior à sua.
            Por vezes o grupo de referência pode ser o grupo de pertença do próprio indivíduo. 
Os grupos sociais e o processo de socialização
Os grupos sociais a que os indivíduos pertencem desempenham um papel fundamental no processo de socialização, na medida em que os indivíduos vão aprendendo os valores, as atitudes e as regras de conduta que lhe estão associados.
No entanto, os indivíduos podem também ser socializados por intermédio dos grupos de referência, identificando-se com os padrões que associam a estes grupos. Neste caso, estão a realizar uma forma antecipada, a integração nos grupos a que aspiram vir a pertencer, ou seja estão a realizar uma socialização por antecipação, ou seja, é um processo de auto-socialização, em que o actor social interioriza os valores e assume os comportamentos próprios de um grupo social a que ambiciona pertencer.


Papel e estatuto social
Os indivíduos, ao longo da vida, pertencem a diferentes grupos, desempenhando neles funções diferentes.
            A essas funções estão associados determinados tipos de comportamentos que devem ser seguidos por todos aqueles que desempenham essa função, podendo assim falar-se de um modo de comportamento associado a uma função, independentemente dos indivíduos que a desempenham no concreto.
            Papel social – comportamento que a sociedade espera por parte de um individuo, que ocupa uma determinada função.
            Os papéis sociais, isto é, as expectativas de comportamento, são socialmente definidos. Deste modo, é através do processo de socialização que os indivíduos aprendem os modos de comportamento esperados, associados a uma determinada função.
             Os papéis sociais são múltiplos e estão associados a funções que correspondem a posições sociais diferenciadas.
            Estatuto social – posição social que um individuo ocupa num determinado grupo social.
            O estatuto social compreende, assim um conjunto de direitos e deveres associados a uma determinada posição social. Como é evidente, os indivíduos ocupam posições diferentes nos grupos sociais a que pertencem, às quais correspondem direitos e deveres próprios, ou seja, estatutos diferenciados.
            Por outro lado, ao longo da sua vida os indivíduos vão alterando os seus estatutos.
            Os indivíduos ocupam, assim, em simultâneo, vários estatutos resultantes das diferentes posições que ocupam. O conjunto destas posições sociais ocupadas pelos indivíduos confere-lhe um estatuto social geral, do qual ocorre a sua avaliação social.

Estatuto atribuído e estatuto adquirido
            Estatuto atribuído – posições ocupadas independentemente da vontade dos indivíduos, que lhe são impostas.
            Estatuto adquirido – posições ocupadas por opção individual
            O processo de interacção social pode ser analisado como um jogo entre papéis e estatutos sociais, pois os estatutos que os indivíduos ocupam condicionam os seus comportamentos e a forma como interagem uns com os outros.
             No desempenho de um papel social são esperados determinados tipos de comportamentos e, por sua vez, o actor social que o desempenha possui um conjunto de direitos e deveres, ou seja, um estatuto social, que espera ver respeitado.
            Neste sentido, os indivíduos aprendem as condutas mais apropriadas para expressar as relações existentes entre pessoas que ocupam diferentes posições sociais.
            Na vida quotidiana, a interacção social assenta neste jogo de expectativas socialmente construídas relativamente aos papéis desempenhados e aos estatutos sociais que ocupamos.


Produção do conhecimento científico em Sociologia
Conhecimento científico e senso comum:

Todos os indivíduos estão inseridos num meio físico e social, sendo lhes por isso fácil emitir uma opinião pessoal sobre os fenómenos que nele ocorrem.
Essas opiniões pessoais dos indivíduos que se baseiam em representações, noções e julgamentos individuais costumam designar-se por senso comum. Contudo estas leituras da realidade social baseadas no senso comum não são leituras científicas dessa mesma realidade.
No caso da realidade social, esta ainda está mais próxima dos indivíduos, pois são eles próprios que a constituem, o que torna ainda mais fácil a emissão de opiniões pessoais sobre os fenómenos que nela ocorrem.
O investigador social (sociólogo) utiliza estas informações fornecidas pelo senso comum. No entanto, para construir o conhecimento científico, tem de romper com essas explicações.
Para construir o conhecimento científico é necessário em primeiro lugar, interrogar, formular perguntas sobre a realidade social para obter as respostas.
As interrogações colocadas deverão ter uma resposta, o que só será possível se a disciplina (Sociologia), possuir conceitos e teorias com a capacidade para as explicar.
Por outro lado, para construir o conhecimento científico é necessário também recorrer a métodos e técnicas para testar as hipóteses explicativas que se formulam.
Deste modo, uma disciplina científica caracteriza-se pelas interrogações que formula, pelo conjunto de teorias que constrói e pelos métodos que utiliza.


Obstáculos à produção do conhecimento científico:

            Na Sociologia, e nas outras ciências sociais, a recolha de informação tem como base as opiniões dos indivíduos, o que as torna muito mais permeáveis do que as ciências físicas e naturais às interpretações do senso comum. Quer isto dizer que o senso comum é um obstáculo á produção do conhecimento científico.
            Por outro lado, o sociólogo estuda a sociedade e, simultaneamente, é ele próprio membro da sociedade que estuda, o que também poderá exercer constrangimentos sobre a sua leitura da realidade social.
            Deste modo são várias as dificuldades que se colocam à produção do conhecimento científico em Sociologia, entre as quais se destacam:

®    o senso comum;
®    a familiaridade com o social;
®    a ilusão de transparência social;
®    as explicações do tipo naturalista, individualista ou etnocentrista.


Senso comum

            As informações recolhidas com base em opiniões dos indivíduos – senso comum são fundamentais para a construção do conhecimento sociológico, contudo é necessário romper com esse conhecimento.
            Com efeito, as opiniões dos indivíduos são mais vulneráveis a obstáculos ao conhecimento, nomeadamente porque são condicionadas socialmente.
            Deste modo, o sociólogo deve estar consciente dos condicionalismos que estão associados às explicações do senso comum e para construir o conhecimento sociológico tem de ultrapassar os obstáculos que essas explicações colocam.
Para superar essas dificuldades, o sociólogo poderá:

®    caracterizar o contexto social, temporal e espacial em que a opinião foi formulada;
®    questionar a explicação dada, nomeadamente fazendo interrogações;
®    encontrar uma relação entre a explicação e os fenómenos a que ela dá origem, pois  os factos sociais só podem ser explicados se houver uma relação entre eles.

Assim, num determinado momento, a produção do conhecimento científico em Sociologia (ou qualquer outra ciência social), implica a transformação das explicações do senso comum (informações disponíveis sobre a realidade social).
Apesar do conhecimento sociológico operar uma ruptura com as explicações do senso comum, estas continuam a constituir a maior fonte de informação para o trabalho do sociólogo.

Familiaridade com o social

            O sociólogo observa a sociedade, mas ele próprio é um membro dessa mesma sociedade. Isto quer dizer que ele próprio adquiriu a cultura da sociedade em que está inserido e está sujeito a constrangimentos sociais dos grupos a que pertence (ex: família, amigos).
            Assim, o sociólogo, porque está inserido numa teia de relações sociais está mais próximo da realidade social. Ora esta familiaridade do sociólogo com a realidade social poderá influenciar a sua análise da sociedade.
            Deste modo, o sociólogo, se quiser que a sua prática seja científica, deverá tentar distanciar-se das relações sociais nas quais está inserido, esforçando-se por romper com ideias adquiridas sobre os fenómenos sociais que vai analisar.


 Ilusão de transparência social

            Para a maior parte das pessoas, a realidade social é mais facilmente explicável do que o mundo físico e natural, o que dá origem a que quase todos os indivíduos exprimam opiniões sobre todos os fenómenos que se produzem na sociedade.
            Com efeito a familiaridade da realidade social parece transmitir a ideia de que existe uma transparência do social, o que leva a que todos os indivíduos se achem com capacidade para explicar os fenómenos sociais. 
            No entanto, a vida social deve ser explicada não pela concepção que dela tem os seus principiantes – evidências do senso comum, mas pelas causas profundas que escapam a essa consciência.

Explicações do tipo naturalista, individualista ou etnocentrista

            A prática científica também se depara com outros obstáculos que resultam do facto da recolha da informação se basear fundamentalmente na opinião dos indivíduos.
            Com efeito, deverá ter-se em atenção que as explicações do senso comum muitas vezes podem ser desadequadas e simplificadoras, reduzindo a complexidade da realidade social. Neste caso encontram-se os seguintes tipos de explicações:

           
®    naturalista;
®    individualista;
®    etnocentrista.

Explicações do tipo naturalista

            O obstáculo naturalista consiste em explicar um fenómeno social por um factor natural.

Explicações do tipo individualista

            O obstáculo individualista reduz a explicação dos fenómenos sociais a factores individuais ou seja, os indivíduos explicam os seus comportamentos e o dos outros como resultando apenas das suas opções pessoais.

Explicações do tipo etnocentrista

            Os indivíduos estão integrados em sociedades e grupos sociais com culturas distintas, reflectindo as suas opiniões pessoais a cultura que aprenderam.
            O problema que daqui decorre é o de que os indivíduos generalizam as suas opiniões pessoais, mesmo quando pretendem explicar comportamentos ou fenómenos que ocorrem em sociedades ou grupos com culturas diferentes.
             Ou seja o obstáculo etnocentrista é o de reduzir a complexidade social na medida em que, os indivíduos explicam os comportamentos ou praticas de outras culturas tendo por base a sua própria cultura e ignorando a diversidade cultural que existe.

A construção da Sociologia enquanto disciplina científica
Problemas sociológicos e regularidades sociais

            O objecto real da Sociologia é o estudo da realidade social. No entanto ela teve de construir o seu objecto próprio - o sociológico (problemas sociológicos).
            Se tomarmos como exemplo um problema social como o desemprego, este não se transforma de imediato em problema sociológico.Com efeito, o desemprego é um problema importante e que afecta um grande número de indivíduos, mas isso não o transforma num problema sociológico, pois para que tal aconteça, é necessário formular interrogações sobre o fenómeno em análise, recorrendo a conceitos e teorias sociológicas que permitam encontrar explicações adequadas para essas interrogações.

            A construção do objecto científico da Sociologia resulta, então do trabalho de descoberta de relações entre os fenómenos sociais, a partir do corpo de problemas, de conceitos e de relações que constituem a matriz teórica da Sociologia.
            Por outro lado, nesse processo de construção são indispensáveis métodos e técnicas próprios que permitem verificar as novas hipóteses explicativas encontradas.
            Deste modo, a Sociologia construiu uma perspectiva própria de interrogar e analisar fenómenos sociais, encarando os como factos sociais que envolvem relações entre os indivíduos e integrando-os no contexto social em que ocorrem. Mas, em simultâneo, a análise sociológica também tenta compreender o sentido que os indivíduos atribuem à sua acção.
            Por outro lado, a Sociologia também tenta encontrar as causas sociais dos fenómenos em análise.
            Com efeito, os comportamentos dos indivíduos também são condicionados socialmente, pois a sociedade e os grupos onde estão integrados transmitem-lhes princípios e regras de conduta que lhes estabelecem padrões de comportamento.
             Deste modo, as acções dos indivíduos não são tão imprevistas como, parecem à 1ª vista, podendo através da análise sociológica, encontrar-se regularidades no comportamento dos indivíduos.
           
Construção do conhecimento sociológico

            A perspectiva sociológica de interrogar e analisar fenómenos sociais tem como grande objectivo descobrir explicações sociais dos factos sociais. Muitas vezes, encontrar essas explicações torna-se bastante difícil, pois o senso comum, uma das principais fontes de informação sociológica, está na origem de diversos obstáculos à produção do conhecimento científico.
            Neste sentido, o Sociólogo, para construir o seu objecto científico, deverá tentar ultrapassar esses obstáculos, começando por fazer perguntas sobre o fenómeno social que pretende analisar. Ora, essas respostas só poderão ser dadas se os conceitos, as relações entra conceitos, as teorias, etc., já elaboradas pela Sociologia, permitirem explicar de uma forma adequada as interrogações colocadas e/ou as explicações encontradas sobre o fenómeno em análise. Desta forma, transformam-se, como vimos, os problemas sociais em problemas sociológicos.
            Neste sentido, as teorias da Sociologia, tal como acontece noutras ciências sociais, desempenham um papel fundamental na construção do conhecimento.
            Contudo as teorias não são o único instrumento que o sociólogo dispõe para a construção do conhecimento. Com efeito, para recolher a informação que lhe permite verificar a validade das interrogações e/ou explicações que formula sobre os fenómenos sociais, o sociólogo pode recorrer a um conjunto de meios de investigação: métodos e técnicas.

®    métodos – sucessão de passos a realizar para explicar um fenómeno social
®    técnicas –meios de investigação utilizados para recolher e tratar a informação

O sociólogo, para testar as hipóteses ou as novas teorias que formou terá de realizar uma sucessão de passos, até obter a sua confirmação ou refutação. Quer isto dizer que terá de escolher uma estratégia de pesquisa adequada aos objectivos que pretende alcançar.
            O método, sob o comando da teoria, define o percurso da investigação e organiza a pesquisa:

®    seleccionando as técnicas apropriadas para a recolha de informação;
®    controlando a aplicação dessas técnicas;
®    integrando os resultados parciais obtidos.

            Os resultados da pesquisa sociológica são amplamente examinados de uma forma crítica, avaliando-se, nomeadamente, os seus limites e as suas potencialidades. Esta capacidade de refleção sobre o seu próprio conhecimento costuma designar-se por reflexividade.
            Por outro lado, a Sociologia, pelo facto de analisar a vida social, produz conhecimentos que podem afectar e influenciar as acções dos indivíduos. Ora, como as pessoas também tem a capacidade de reflectir sobe si próprias, muitos desses conhecimentos vão ser incorporados, contribuindo para transformar as suas práticas.
            Deste modo, a Sociologia, ao estimular a reflexividade social, contribui para a estruturação e transformação das sociedades contemporâneas.